RÁDIO GOSPEL

              

 

 

 

 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O Filósofo do Barril

O Filósofo do Barril

Na Grécia Antiga existiu um filósofo chamado Diógenes de Sinope. Ele nasceu por volta de 412 a.C. e morreu em cerca de 323 a.C., em Corinto. Diógenes viveu em Atenas, onde era conhecido como uma figura excêntrica. Ele andava com uma lanterna durante o dia, dizendo que estava procurando um homem sincero ou honesto. Também morava num grande barril (igual ao do Chaves) e geralmente é retratado como um mendigo rodeado de cães. De fato, Diógenes vivia assim para realizar o ideal de uma vida livre de futilidades, valores e luxos inúteis.
Diógenes é definido como um filósofo cínico — o tipo de pensador que rejeitava a moral sexual, o valor das autoridades e a necessidade de instituições como o casamento e o Estado. É claro que, como cristão, sou avesso a essas propostas. Contudo, há uma anedota ligada ao folclore em torno da figura de Diógenes que eu acho muito interessante.
Dizem que um dia (quem conta é Plutarco), o filósofo do barril se viu diante de nada mais nada menos que Alexandre, o Grande. O imperador, vendo o filósofo sentado ao Sol, em completa miséria, disse a ele que lhe pedisse o que quisesse. Diógenes, então, respondeu: “Peço que você não tire o que eu tenho”. Alexandre ficou intrigado e disse algo mais ou menos assim (vou parafrasear): “Mas você não tem nada! Como posso tirar alguma coisa de você?”. O filósofo, enfim, retrucou com clareza: “Eu peço que você não fique entre mim e o Sol”. Em outras palavras: “Alexandre, eu tenho, sim, um pedido: dê um passinho para o lado porque você está atrapalhando o meu banho de Sol”.
Gosto dessa anedota porque fico imaginando a cara do imperador naquela hora. Ele se julgava o dono do mundo, o orgulhoso rei da Terra, o grande soberano que podia conceder tudo que lhe pedissem. Então, Diógenes mostrou um desprezo imenso por tudo que Alexandre tinha e ainda disse que ele o estava atrapalhando ao fazer sombra! Para Alexandre, ficou claro que Diógenes o considerava alguém que não tinha nada importante e que, ainda por cima, era um estorvo!
Na minha cabeça de pregador, é inevitável que uma historieta dessas desperte certas analogias. Penso nos incrédulos que conhecemos; penso nas pessoas do mundo com todo o seu orgulho, passando a imagem de que são realizadas, autossuficientes e donas de si; penso nos homens sem Deus olhando para os crentes e vendo-os como infelizes que não aproveitam a vida, privando-se do que existe de melhor; penso nas ofertas dessa gente de vida podre, que chega perto de nós se julgando superior e supondo que têm tesouros a oferecer... Enfim, penso nos Alexandres de coração triste que querem nos ensinar a ser felizes (hehehe).
Depois, eu penso no cristão e imagino a resposta dele a esses tolos: “Há, sim, uma coisa que eu quero de vocês: se afastem um pouco, pois estão impedindo a passagem da luz. Suas conversas, ideias, brincadeiras e apelos atrapalham o meu desfrute completo do Sol. Eu quero andar plenamente na luz e vocês estão fazendo sombra. Por isso, se quiserem mesmo ser legais, fiquem um pouquinho mais para o lado. Na verdade, se puderem ir embora, seria melhor ainda!”.
De fato, o mundo não tem nada que possa completar nossa paz e alegria. Todas as suas ofertas são mentirosas e, quando aceitas, nos desviam do caminho certo, conduzindo para um abismo horrível ao final. Em Cristo, porém, temos tudo de que precisamos para a real felicidade. Nele e por meio dele obtemos perdão, retidão, vida, paz e satisfação (Jo 7.38; Rm 8.6).
De que mais precisamos? De nada! Por isso, vamos olhar para o mundo com todos os seus atrativos enganosos e repetir como novos Diógenes: “Eu ando na luz e quero permanecer assim. Pare de tentar me fazer sombra!”.
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

domingo, 15 de fevereiro de 2015

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

IGREJA BATISTA REDENÇÃO

Liberdade de Expressão

A cada dia que passa, este mundo se afunda mais em confusão moral, política e filosófica. Nesse último aspecto, um dos indícios do caos (pelo menos para mim) foi a forma como, recentemente, a mídia, as autoridades e as celebridades em geral passaram a usar a fórmula “liberdade de expressão”.
Sempre concebi (intuitivamente) o significado dessa fórmula como abrangendo, pelo menos em parte, o desfrute do direito de discordar de alguém — seja na esfera política, religiosa, ética ou filosófica — podendo o indivíduo expressar essa discordância de forma aberta, sem ser punido por isso. Atualmente, porém, essa definição tem de ser reelaborada a fim de abrigar novos elementos, se levarmos em conta o modo como a mídia parece entender agora a tal “liberdade de expressão”.
Notem bem: nos últimos meses, a fórmula “liberdade de expressão” se tornou frequente nos meios de comunicação e na boca das pessoas por causa do assassinato dos cartunistas do jornal satírico francês Charlie Hebdo. Os cartunistas foram fuzilados por radicais islâmicos, em represália às charges que fizeram de Maomé, uma brincadeira que ofendeu os escrúpulos dos muçulmanos.
Os desenhistas do Charlie Hebdo, diga-se de passagem, eram desrespeitosos ao extremo com qualquer religião, inclusive (e talvez de modo mais chocante) o cristianismo. Eles faziam charges blasfemas, geralmente com conteúdo moral bem baixo, sem se importar nem um pouco se estavam ferindo ou não a fé tão cara às pessoas. Ora, como o sentimento religioso é coisa com que não se brinca, quando o desrespeito daqueles desenhistas pela fé se deparou com o desrespeito dos radicais pela vida, deu no que deu: tragédia, dor e morte.
Diante disso, toda a imprensa internacional e as autoridades políticas condenaram (corretamente) o ataque, dizendo (estranhamente) que os desenhistas do Charlie Hebdo tinham direito à “liberdade de expressão”. Foi isso que, além da crueldade da chacina, me causou espanto: a forma como, a partir daqueles episódios, usaram a fórmula “liberdade de expressão”. Como eu disse, antes, essa fórmula parecia significar apenas o desfrute do direito de discordar de alguém abertamente, sem ser punido por isso. Agora, porém, o conceito se expandiu. Pelo jeito, nas cabecinhas pós-modernas, liberdade de expressão é o direito de discordar de alguém desrespeitando suas crenças, ridicularizando suas ações e ferindo seus escrúpulos sem nenhum limite moral!
O problema com essa definição, porém, é que ela não é somente absurda em seu conteúdo. Ela é absurda também no modo como é aplicada, o que exige que seja ainda mais trabalhada. Deixe-me explicar melhor: imagine que uma revista cristã publicasse uma tira ridicularizando os homossexuais. O que a mídia, as autoridades e os intelectuais iriam dizer? Acaso afirmariam que a revista cristã tinha o direito de desfrutar de sua “liberdade de expressão”? É claro que não! Nesse caso, o conceito novo não se aplicaria de jeito nenhum! No lugar dele, nós ouviríamos palavras como “homofobia”, “preconceito”, “ignorância”, “intolerância”, “fanatismo”, etc. Talvez até acusassem a revista de ser nazista, racista, fundamentalista e criminosa. Ações judiciais seriam movidas contra os cartunistas cristãos e isso tudo com a aprovação dos jornais e dos políticos. Também quem fosse visto com um exemplar daquele periódico seria discriminado ou talvez até agredido na rua.
Bom, sendo óbvio que tudo isso aconteceria (alguém duvida?), imagino que mesmo o conceito moderninho de “liberdade de expressão” tem de ser de novo ampliado, ficando ainda mais incongruente. Eu proponho o seguinte: liberdade de expressão é o direito de discordar de alguém desrespeitando suas crenças, ridicularizando suas ações e ferindo seus escrúpulos, desde que essas agressões não ofendam os interesses da mídia e dos homossexuais. Se isso ocorrer, não se falará mais em liberdade de expressão, mas sim em preconceito e ignorância.
Pronto! Agora chegamos ao conceito completo. Todos entenderam? Cartunistas que ridicularizam a Trindade são pessoas de mente aberta e têm o direito de se expressar dessa maneira. Já os cartunistas que ridicularizam o homossexualismo são preconceituosos e devem ser reprimidos.
Que grandes avanços nossa sociedade tem feito na área ética e jurídico-filosófica! Sem um referencial fixo para medir o que é certo, o padrão de justiça criado por quem tem mais poder se torna maleável e amorfo (eles podem inventar, modificar ou mesmo anular o que acham certo) e, pra piorar as coisas, esse padrão melequento é aplicável somente em alguns casos, dependendo da conveniência.
Nós, cristãos, ao contrário disso tudo, cremos que toda liberdade deve ser limitada pelo amor e pela sensibilidade ao que edifica e ao que é apropriado a um seguidor de Jesus. Paulo era livre para comer o que quisesse, mas ele disse que, se o ato de comer carne fizesse com que alguém se entristecesse, ele nunca mais botaria um bife na boca (1Co 8.13). Ele disse que os crentes são livres para fazer tudo, mas que essa liberdade deve ser vivida com sabedoria, levando o bom discípulo a fazer somente o que edifica, o que convém e o que não traz escravidão (1Co 6.12; 10.23).
Assim, a partir das Escrituras, os crentes podem formular um conceito correto, elevado e justo de “liberdade de expressão”. Vou arriscar construir um aqui: liberdade de expressão é o direito de discordar de crenças, ideias e comportamentos sem ser punido por isso, fazendo-o, no entanto, dentro dos limites do amor e da decência (o que pode até envolver o bom humor), tendo como alvo a correção, a edificação e a felicidade das pessoas.
Será que os cartunistas e seus amiguinhos querem mesmo essa liberdade?
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria