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sexta-feira, 2 de maio de 2014

As Confissões de um Ateu Sincero (Parte 1)


As Confissões de um Ateu Sincero (Parte 1)


Meu nome é Frederico. Sei que é um nome meio engraçado (dizem que é nome de papagaio). Por isso prefiro que as pessoas me chamem de Fred. Tenho 38 anos, sou casado, tenho uma filha de 11 anos, trabalho como professor de biologia e sou ateu. É nesse último item que quero me concentrar. Sou ateu. Confesso que não me tornei ateu depois de muita reflexão filosófica ou grandes lutas existenciais. Não! Na verdade, minha “conversão” aconteceu na adolescência. Na época, decidi ser ateu porque parecia ser a opção das pessoas mais sofisticadas e intelectuais e eu queria muito ser visto assim pelos meus colegas.
No colégio e na faculdade (conforme descobri mais tarde) existem duas maneiras de você ser visto como um “crânio”, dono de uma cabeça privilegiada. A primeira delas é estudando bastante; a segunda é dizendo que é ateu. Eu optei pela segunda maneira. E funcionou! Afinal de contas, os alunos percebiam que os professores que pareciam mais “mente aberta” — aqueles tipos que matam a gente de rir falando palavrões durante a aula — eram, na maioria, ateus, enquanto a crença em Deus ficava geralmente com o povinho de baixa escolaridade, como meus pais e avós.

Bom, seja como for, dizer aos meus colegas que eu era ateu me fez sentir respeitado. Tinha a impressão de que todos agora me viam como um cara inteligente, racional e dotado de uma mente científica. Era como se eu participasse de uma “elite pensante”, mesmo sabendo que eu não tinha pensado muito pra adotar o ateísmo.

Meu ateísmo declarado não trouxe, contudo, somente esse benefício. Definir-me como ateu produziu em mim certas sensações de que gostei. Eu não sabia que essas sensações viriam, mas fui surpreendido por elas e isso me fez muito bem. Deixe-me ser mais específico: Quando me declarei ateu, fui tomado de um sentimento amplo de liberdade. Como eu disse, meus pais e avós criam em Deus. Eles não eram muito religiosos, mas acreditavam mesmo na existência de um “Ser Supremo”. Por causa disso, eu cresci ouvindo frases como “vamos pedir pra Deus”, “que Deus o proteja!”, “a gente tem que ter temor de Deus”, “a mão de Deus pesa”, e por aí vai... Essa noção que eles me inculcaram me prendia um pouco, impedindo-me de ser mais ousado diante das coisas que eu desejava fazer. Eu tinha receios. Tinha um pouco de medo de fazer algo de que Deus não gostasse e, então, fosse castigado. Puras bobagens!

Quando, porém, eu disse “eu sou ateu”, isso foi tremendamente libertador. Pensando bem, o impacto dessa afirmação foi muito maior em mim que nos meus colegas que a ouviam. De fato, a partir do dia em que a pronunciei, senti que podia fazer qualquer coisa, provar qualquer coisa, viver como eu bem quisesse, ser o que eu bem entendesse. Quando experimentei esse mel, confesso que deixei de perguntar se o ateísmo era verdadeiro ou não. Como eu disse, eu nunca tinha refletido muito sobre isso, mas agora, especialmente, sentindo-me tão livre, essa questão foi mesmo para o fundo da gaveta. O que importava é que doravante eu podia relaxar e seguir em frente “numa boa”. Nenhum juiz supremo, nenhum mandamento, nenhum castigo, nenhum inferno... Ah!

Enquanto essa liberdade esteve restrita ao campo das sensações, tudo correu bem. Algumas preocupações, porém, surgiram quando comecei a viver efetivamente a minha alforria. Eu explico: Sendo um jovem ateu livre e desimpedido, em pouco tempo caí na farra pra valer. Não vou entrar em detalhes, mas fiz de tudo ou quase tudo. Não sei explicar direito como eu não me tornei de vez um “caso perdido” (como dizia meu pai), ou um “vida torta” (como dizia minha mãe). Acho que foi porque, depois de algum tempo, a liberdade do meu ateísmo perdeu um pouco a graça. Na verdade, confesso que eu não era nenhum poço de felicidade enquanto usufruía plenamente dela. E pra piorar, acho que por causa da minha criação ou dessa cultura religiosa brasileira em que nasci, em algum canto escondido da minha mente havia uma espécie de voz, às vezes bem apagada, outras vezes muito incômoda e altissonante, que não me deixava totalmente seguro do meu ateísmo. Eu sempre a abafava dizendo que isso era resultado do que meus pais haviam plantado em mim na infância. O problema era que eu sabia que meus pais haviam me inculcado outras tolices quando eu era pequeno (venerar Maria, evitar o número 13, ter medo de assombração, não comer manga com leite...), mas nenhuma dessas coisas ficava me alfinetando anos e anos a fio. Por que só a crença em Deus não sumia de vez da minha cabeça?

Confesso que essa voz chata e importuna esvaziou um pouco a alegria da minha liberdade ateísta e, diga-se de passagem, ainda hoje tento fazê-la calar. Porém, creio que o que me impediu mesmo de ser um “vida torta” foi ter amadurecido e notado, a certa altura, que tinha que aprumar a vida. Se não o fizesse, onde eu iria parar? Descobri, assim, que a liberdade do ateísmo era meio perigosa, pois é uma liberdade que remove todas as cercas. Até a cerca da consciência da gente ela acaba removendo. E é nisso que está o perigo. Ainda bem (pra não dizer “graças a Deus”) que percebi o risco a tempo e, sem religião, sem igreja, sem Bíblia nem nada, eu construí minhas próprias cercas usando como base algumas noções que adquiri em casa e também o exemplo dos meus pais.

Uma coisa, porém, quero deixar bem clara aqui: Essas cercas eu mesmo construí. São minhas! Não são cercas de ferro que um Deus raivoso colocou ao meu redor. Eu mesmo as fiz e é graças a elas que hoje sou o que chamam de “homem de bem”. Pra ser sincero, admito que não as construí com um material lá muito resistente. Na verdade, considerando o grau de comprometimento que tenho com meus próprios valores, acho que usei uma espécie de isopor. Que seja! O fato é que eu quebro facilmente as minhas cercas sempre que quero ou julgo necessário. Durmo muito bem com isso! Bem... Pra ser sincero, nem sempre durmo muito bem.

(Continua)
Pr. Marcos Granconato

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